Preparação para a reforma
Não nos podemos sentir demasiado “velhos” para recomeçar, nem demasiado “novos” para
nos reformarmos.
A maturidade na carreira e a consciência da possibilidade de realização pessoal durante um
período de vida cada vez mais longo, obriga-nos a repensar a relação com o trabalho, de forma
a preparar a vida após a reforma profissional; e também de modo a fazer um reajustamento
das nossas expectativas bem como uma negociação das suas concretizações.
Temos de ter consciência de que ter sentimentos da inexistência de perspectiva de carreira, de
estar afastado dos planos de promoções e de formação profissional, conduzem-nos ao
preconceito associado à representação do envelhecimento como processo de perda de
capacidades.
Temos de entender a importância da conciliação do trabalho com vida familiar e social,
enfrentando o processo de facilitação, de autonomia e de separação dos filhos, aceitando uma
relação de adulto para adulto com os filhos, abrindo espaço a novos elementos da família por
afinidade e a netos, reorganizar a vida de casal a dois, e ainda lidar com o envelhecimento e
com a incapacidade e morte dos pais, ou seja, aprender a ser e a viver como “geração
sandwich”
Neste período de preparação para a reforma, devemos:
Encontrar a qualidade intrínseca do trabalho, reconhecendo autonomia no trabalho,
participação no trabalho, realização profissional e sentido de utilidade do trabalho;
Reconhecer que a capacidade de trabalho resulta do equilíbrio entre o emprego e os recursos
individuais: aptidões funcionais, competência, valores, atitudes e motivação;
Ter uma melhor consciencialização sobre o envelhecimento, acreditar que os trabalhadores
mais velhos possuem conhecimentos e competências diferentes dos das outras gerações e
procurar formas de trabalho compatíveis com a idade, e assim poderemos assegurar uma transição segura e
digna para a reforma.
A reforma
Reformar-se significa habitualmente o abandono da atividade profissional, o direito a receber
uma pensão e a identificação com um novo papel, o de reformado, com consequências
imprevisíveis ao nível da satisfação de vida e do bem-estar psicológico, da saúde, do
relacionamento com os outros, das rotinas quotidianas e até mesmo da personalidade.
A reforma pode ser vivida como um sentimento positivo de libertação, de bem-estar e de
sensação de dever cumprido, ou como um sentimento negativo de desorientação, solidão,
saudade, etc.
As atitudes face à passagem à reforma são influenciadas por fatores de distinta natureza, tais
como o grau de preparação para a reforma, a existência de planos para ocupação do tempo
não laboral, o nível de satisfação com a atividade profissional desempenhada, a composição da
rede social, a personalidade e idiossincrasia de cada um.
Numa sociedade onde há valorização extrema do trabalho, ser colocado à margem do
processo das atividades remuneradas pode provocar a perda da própria identidade. A quebra
na rotina de ocupação do tempo pode resultar em dificuldades na gestão do tempo disponível,
pressionado pela inexistência da valorização em sociedade do direito ao tempo livre.
O envelhecimento é um novo estado de equilíbrio biológico que necessita de adaptação sem
choques. Consiste num processo adaptativo, moroso e contínuo, que implica diversas
modificações em todos os sentidos com intervenção nos fatores biológicos, psicológicos e
sociais de cada um de nós.
Envelhecer exige a aceitação de modificações corporais, cognitivas e de comportamento;
desenvolver capacidades de luta e adaptação às consequências da idade e do tempo;
compreender mudanças tecnológicas e culturais, desenvolver novas aptidões e descobrir
novos papéis.
Diferente para cada um, a idade psicológica refere-se às competências comportamentais que
podemos alterar em resposta às alterações ambientais, baseadas na inteligência, memória e
motivação.
A reorganização da vida familiar implica a redefinição de sentidos individuais para a vida, a
reorganização de espaços domésticos em função da permanência, reorganização de rotinas,
gestão de triangulações e conflitos intergeracionais, aceitação do sentimento de realização e
missão cumprida ou de falhanço, bem como a redefinição da rede social que inclui a gestão
das perdas, desafios na criação de novos encontros e reencontros, etc.
São ainda parte integrante do envelhecimento problemáticas de solidão, conflitualidade
familiar, enfrentar demência e doença crónica própria ou como cuidador.